[in]visibilidade das identidades nos manuais escolares portugueses do 1º ano do ensino básico de Estudo do Meio a partir de 1974
O projeto [in]visible tem foco no estudo da (in)visibilidade da representação das identidades nas imagens e ilustrações dos manuais escolares de Estudo do Meio no 1º ano do ensino básico em Portugal a partir de 1974. O princípio da escolarização utiliza o manual escolar como uma ferramenta didática essencial que acompanha as aprendizagens. Trata-se de livros criados por editoras, validados pelo Ministério da Educação, selecionados pelas escolas e nos quais é depositada a confiança de transmissão de conhecimentos, mas também das directrizes de um país inserido nos valores do mundo globalizado. Os exemplos apresentados nas imagens dos manuais escolares oferecem, relativamente às estruturas sociais, políticas e culturais, um apoio para o (re)conhecimento de si e do outro. (Re)conhecimento de quem se vê espelhado e que serve de modelo, mas também de quem é invisível. A (não) presença de representações imagéticas de identidades nestes livros que acompanham o conhecimento dos mundos, influenciam o modo como o passado-presente-futuro é construído. Pretende-se verificar se estes manuais escolares espelham a política educativa governamental, e estudar como neles as identidades são apresentadas e representadas.
Almeja-se desenvolver uma análise crítica sobre como a imagem contribui para a construção de uma representação de normalidade sobre as identidades, em que estereótipos tendem a ser naturalizados. Para isso, do ponto de vista metodológico, através de uma estratégia mista, que utiliza ferramentas quantitativas e qualitativas de recolha de informação, serão analisados, a partir das imagens, os manuais escolares de Estudo do Meio e será criado um arquivo histórico destas representações. Interessa desenhar e expor um pensamento visual sobre as (in)diferentes representações de identidades (in)visíveis desde que Portugal saiu da ditadura, com as marcas do passado, e atravessado pelos diferentes desenhos curriculares e publicações até aos anos 20 do séc. XXI. Os critérios do projeto centram-se na pluralidade de representação no que se refere a singularidades de identidades (não)discriminadas, como a diversidade étnica e cultural, o género, a orientação sexual, as idades, os estratos sociais e a capacidade reduzida.
As investigações sobre os manuais escolares relacionadas com questões de estereótipos e discriminação étnica/racial/cultural, e que exploram as noções de marginalidade e discriminação, estão apenas a ser desenvolvidas fora de Portugal[1]. As pesquisas em torno dos manuais têm vindo a multiplicar-se por todo o mundo, mas centram-se em análises dos contextos (geográficos/temporais) e textos de disciplinas específicas, assumindo este programa a necessidade de avançar com estudos aprofundados dos elementos visuais, afastando-se da centralidade do texto. Sendo a imagem no manual escolar um elemento fulcral no início da escolarização, para uma aprendizagem multimodal ‘atrativa’, e com crescente utilização desde o início do séc. XX[2], merece uma atenção que complemente os estudos já realizados e os alargue à realidade nacional.
Se em alguns países houve estudos(1960s) na área da representação das minorias e géneros (US; DE; BR; GB; ES), em Portugal a investigação sobre manuais escolares é parca[3][4], sendo inovadora a abordagem sobre a problemática das identidades a partir das imagens. Investindo neste tema, coloca-se em debate o desafio da pluralidade de identidades e histórias que acompanham o crescimento da diversidade na sala de aula. De acordo com o relatório do Alto Comissariado para as Migrações, é o 1º ciclo que reúne o maior número de estudantes estrangeiros matriculados em Portugal Continental: em 2018/2019 eram 17620. Evidencia-se um crescimento da diversidade cultural, com aumento no ensino básico/secundário (América do Sul-45,1%; PALOP-24,5%; UE-12,3%; Europa de Leste-10,5%; Ásia-8,1%; outros-3,1%), justificando a pertinência deste estudo no campo da diversidade étnica[5].
O estudo pretende construir um arquivo através do levantamento da imagética que os manuais escolares veiculam, analisando os valores que apresentam, contribuindo para o mapear das identidades representadas, entrelaçando as áreas da imagem/ilustração com a educação e a antidiscriminação. A sistematização da informação recolhida permitirá aferir de que modo, os produtores e legitimadores destes manuais, interpretam/aplicam as políticas educativas nacionais no que concerne à presença, ou ausência, da representação plural da identidade dos seus cidadãos. Pretende-se produzir um conjunto de boas práticas a partir de sinergias com editoras que possibilitem aos intervenientes do manual escolar favorecendo a pluralidade social, cultural ou étnica, que favoreça uma aprendizagem mais inclusiva, empática e valorizadora da diferença, cumprindo com os ODS 4, 5 e 10. Um estudo que, ao construir um arquivo da [in]visibilidade de identidades, oferece diferentes perspectivas futuras, contribuindo para debates nacionais e internacionais.